quarta-feira, 25 de novembro de 2009

O aviador, o principezinho, a ovelha VS a flor


Quando as dúvidas assolam um qualquer pensamento...
Quando o receio de perder o que nos é especial invade o íntimo...
Quando qualquer coisa, algo ou alguém nos é tão especial e pensa-se na sua efémeridade...
...e quando alguém subvaloriza o que nos é tão importante... sente-se uma tristeza no íntimo...

Eis uma conversa do principezinho com o aviador...
No princípio ele não lhe ligou muito... desvalorizou a preocupação do principezinho...
Ao referir que não tinha importância alguma a dúvida do pequeno, este ficou lívido e ripostou...

"-As flores fabricam espinhos há muitos milhões de anos. Apesar disso, as ovelhas comem flores há muitos milhões de anos. E vens-me tu agora dizer que tentar perceber porque têm elas tanto trabalho a fabricar espinhos que nunca lhes servem para nada não é uma coisa séria? Que a guerra entre as ovelhas e as flores não é uma coisa importante? Não será uma coisa bem mais séria e bem mais importante do que as contas de um senhor muito gordo e muito encarnado? E se eu, eu que estou aqui à tua frente, conhecer uma flor única no mundo,uma flor que não existe em mais lado nenhum senão no meu planeta, mas que, numa manhã qualquer, uma ovelhinha pode reduzir a nada num instante, assim, sem dar sequer pelo que está a fazer, isso também não tem importância nenhuma, pois não?

Corou. Mas ainda não tinha acabado.

- Amar uma flor de que só há um exemplar em milhões e milhões de estrelas basta para uma pessoa se sentir feliz quando olha para o céu. Porque pensa: «Ali está ela, algures lá no alto...» Mas se a ovelha comer a flor, para essa pessoa é como se as estrelas se apagassem todas de repente! Mas isso também não tem importância nenhuma, pois não?

E não foi capaz de continuar. Desatou de repente a chorar. Entretanto, fizera-se noite e eu largara as minhas ferramentas. Queria lá saber do martelo, da porca, da sede e da morte! É que, numa certa estrela, num certo planeta, no meu planeta, na Terra, havia um principezinho para consolar. Peguei-lhe ao colo. Embalei-o. Fui-lhe dizendo: « A flor de que tu gostas não corre perigo nenhum... Eu desenho um açaimo para a tua ovelha... Eu desenho uma armadura para a tua flor... Eu...»
Não sabia que mais lhe prometer. Sentia-me completamente desarmado. Não sabia como chegar até ele... É tão misterioso, o país das lágrimas!"

O Principezinho - Saint-Exupéry
excerto do capítulo VII

O que daqui depreendo, é que não nuncase deve desvalorizar as preocupações do outro...
Especialmente no sítio onde trabalho. Perante o cansaço, o dever de ter tudo feito como se sobrehumanos fossemos, o stress, existe uma tentação de ligar um filtro nos ouvidos e abanar a cabeça como quem ouve,sem nada ouvir!! NUNCA ISTO ACONTEÇA... estaremos a ser péssimas pessoas e péssimos profisionais se tal suceder...
Como podemos ferir aquele que ja sofre...


E a expressão de amor proferida pelo principezinho pela sua flor...
Não traduz por completo a sensação que nos preenche quando amamos?! :)

Que bela obra, esta, do Principezinho... intemporal!!

1 comentário:

  1. Sabes, esta bíblia do Saint Exupery como lhe chamei em tempos, toca-me sempre, e hoje "reli" um pouco pelo excerto que dela trouxeste. Agradeço, não apenas a partiolha, mas as tuas impressões sobre a mesma. Comungo delas. E, sim, concordo inteiramente com a tua afirmação "E a expressão de amor proferida pelo principezinho pela sua flor...
    Não traduz por completo a sensação que nos preenche quando amamos?! :)" Claro que sim. E quem, como tu, trabalha com pessoas, uma enfermeira, teres sempre isto presente é ainda melhor.

    beijinhos. És simplesmente mais uma estrela do céu do Principezinho. E o mundo precisa de tantas pessoas assim...

    Parabéns.

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